
Isso é baseado no cartaz do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964). O filme é de Glauber Rocha e o cartaz é de Rogério Duarte.

Isso é baseado no cartaz do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964). O filme é de Glauber Rocha e o cartaz é de Rogério Duarte.


Muitos amigos me ligaram, preocupados, querendo saber o que aconteceu com o tatuador tuiteiro que, por engano, tatuou uma mensagem no braço de um cliente, o lutador de MMA Max Marombão. Vejam aí na figura como ficou o trabalho.
É claro que o lutador de MMA e enfiou a porrada no tatuador, e depois exigiu providências imediatas para remediar a cagada. O tatuador disse que a maneira mais rápida e eficaz para se livrar da tatuagem seria a amputação do braço. Max Marombão não gostou da ideia e deu mais umas enchulapadas no tatuador. Em seguida, os dois passaram a cogitar sobre as opções de desenhos para cobrir aquele texto. O tatuador sugeriu então o desenho de um enorme coração envolvido por uma faixa onde se lê a palavra “Mother”. O lutador pensou um pouco e disse que não seria boa ideia, porque ele não se dá bem com a mãe. “A gente briga muito. E ela sempre perde”, disse ele.
Depois pensaram em caveiras, águias, punhais e o diabo, mas ele já tinha todos esses temas tatuados em outras partes do corpo, inclusive o diabo. O tatuador teve então uma ideia ousada: propôs tatuar o rosto do escritor Lima Barreto, homenageado da Flip em 2017. O lutador até achou a ideia interessante, mas preferiu não fazer, para não se sentir na obrigação de, no ano que vem, cobrir o Lima Barreto com o retrato do homenageado da Flip de 2018. O tempo estava passando e eles, já sem muita paciência, resolveram optar para um clássico: a infalível imagem de Jesus Cristo. Essa é uma unanimidade, não tem erro.
E assim foi feito. O problema é que, dias depois, quando Max Marombão estava passeando pela primeira vez com sua nova tatuagem, um cara chegou perto e falou: “Que maneiro! Gostei dessa homenagem ao Aldir Blanc!”
Nem é preciso dizer que, depois dessa, o tatuador distraído levou mais umas bifas.
(Publicado na Folha de S. Paulo em julho de 2017)




Pela sétima vez na mesma semana, Jair foi acordado no meio da noite por aquela voz grave, poderosa e ameaçadora. A voz surgia com a mesma insistência daquelas ligações de operadoras de telefonia, e sempre nas horas mais impróprias. Jair não tinha controle sobre aquilo, e não sabia como desligar aquele vozeirão que ecoava dentro de sua cabeça.
“Jair! Jair! Tu estás me ouvindo? Já falei mais de uma vez e não quero ficar aqui perdendo o meu tempo, repetindo eternamente a mesma ladainha. Tu estás surdo, Jair? Já falei que não quero o meu nome envolvido nessas paradas que tu e teu povo estão armando. Depois, se vós fizerdes alguma merda, posso acabar virando réu num desses processos. Jair, que negócio é esse de misturar educação com religião? Vós não sabeis que o Estado brasileiro é laico? Vós quereis usar as escolas públicas para catequizar os alunos que vós considerais infiéis e pagãos? Acho que vós não pegastes bem o espírito da coisa. Jair, vou repetir: a Constituição do teu país diz que o Estado é laico. Laico não é ateu, Jair. Estado laico é o que dá liberdade a todas as religiões, e também a quem não tem religião, sem apoiar ou privilegiar nenhuma opção. Tu fizeste uma promessa solene, diante da bandeira brasileira. Tu prometeste obedecer a porra da Constituição, Jair! Estou avisando: se tu e teu povo continuardes nesse tom nós vamos ter problemas. Eu, com a minha onisciência, já estou prevendo que, em breve, vós estareis incluindo no currículo escolar aquelas teorias de que o mundo foi criado há 10.000 anos, que vós não sois descendentes de macacos e que os dinossauros foram extintos porque não conseguiram entrar na Arca de Noé. Jair, deixa eu explicar uma coisa: a Bíblia não é para ser interpretada ao pé da letra. Aquilo é um monte de parábolas e metáforas! E não fui eu que escrevi. Foi uma grande equipe de apóstolos e marqueteiros, trabalhando ao longo de séculos. Se vós continuardes nessa linha doutrinária, prevejo que, daqui a pouco, vós incluireis nas aulas de geografia a teoria da Terra Plana e outras besteiras desse tipo. É isso, Jair. Espero não ter que ficar ligando toda hora. Essas ligações são caríssimas. Câmbio e desligo.”
*Texto publicado na Folha de S.Paulo em novembro de 2018.