De repente, ele teve uma epifania, um insight e uma sacada, tudo ao mesmo tempo: percebeu que não tinha nascido para ser presidente e teve a nítida sensação de não saber o que estava fazendo ali. Viu que tinha que mudar os rumos do seu destino. Naquele momento, sentiu vontade de jogar tudo para o alto, formar uma banda de rock e cair na estrada.
Chamou os filhos e os colaboradores mais próximos e começou a fazer planos. A princípio, todos ficaram um pouco perplexos com a decisão, mas ele tranquilizou a galera: “Sei que vocês não cantam nem tocam porra nenhuma, mas para fazer rock bastam três acordes e uma atitude. E Deus está do nosso lado!”.
Depois de um primeiro momento de indecisão, o grupo concluiu que daria tempo de ensaiar um repertório para participar do próximo Rock in Rio. O fato de o line-up do festival já estar fechado não seria um problema. Eles poderiam pedir para alguns amigos eliminarem discretamente uma ou duas bandas menos conhecidas, para abrir espaço na programação. O mais urgente agora era bolar um nome para a banda e traçar uma estratégia de marketing bem agressiva.
Como sempre, as discussões do grupo foram muito acaloradas, mas surgiram várias boas ideias para o nome da banda. O mais óbvio, A Banda do Capitão Pimenta, foi logo deixado de lado. Outros nomes bem cotados foram Pathetic Monkeys, Guns N’ Roses N’ More Guns, The Milice, Os Paramilitares do Sucesso, Ideological Bias, Terraplanistas, Keiroz Abelha e os Laranjas Selvagens, Leftist Nazis e Ustra-Death.
Agora a coisa vai.
* Texto publicado na Folha de São Paulo em 2019, e depois incluído no livro PARADAS MUSICAIS.