Não se preocupem, vai dar tudo certo. Nessa passagem de ano eu usei uma roupa nova e branca, fui na praia, joguei flores para Iemanjá e pulei sete ondas. Depois, comi sete uvas, sete sementes de romã e sete pratos de lentilhas. Guardei as sementes na carteira e os pratos sujos na pia da cozinha, e lá ficarão até a próxima passagem de ano. Pintei as unhas de dourado (para chamar dinheiro), vesti uma cueca vermelha (para ser feliz no amor), fiz uma selfie ao lado de um sapo, copiei a foto sete vezes, enviei a foto para sete amigos e depois enterrei o smartphone numa encruzilhada. Nesse local botei um alguidar com sete charutos, sete fitas de Nosso Senhor do Bonfim e sete fotos do Paulo Guedes. Bebi sete taças de espumante e o que sobrou na garrafa joguei por cima do ombro esquerdo.
Exatamente à meia-noite, no momento em que estava amarrando a sétima fita de Nosso Senhor do Bonfim no sétimo charuto, fiz mentalmente um pedido, só um pedido, uma coisa muito simples. E não era para mim, apenas para a minha satisfação pessoal. Era algo para todo o planeta, para a espécie humana. Pedi simplesmente que, neste ano novo, todos os líderes de todas as nações do mundo fossem capazes de um gesto de grandeza. Mas, pensando bem, não sei se vai dar certo.